SUICÍDIO
"O suicídio faz com que os amigos e familiares se sintam seus assassinos".
(Vicent Van Gogh)
Sexo, Idade: F, 27
Cor: (descendente de orientais)
Meio: projétil de arma de fogo
Forma de mensagem: carta manuscrita a tinta azul
“A quem possa interessar:
Grande parte do que possuía foi vendida ou doada. O que resta, é minha vontade que seja entregue ao meu amigo João; o qual poderá dar a meus pertences o destino que lhe aprouver. Nada deverá ser entregue a qualquer parente meu. Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria. Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos, na água que corre para o mar nas chuvas que regam os campos, no orvalho que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos que escondem a caça do caçador... Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro. Romântico? Não! Foi o mundo, minha família, meu educador mas principalmente... foi o seio que aconchegou a criança que vinha lhe contar as suas tristezas, mágoas, alegrias, pensamentos, e seus desejos íntimos... suas esperanças. A criança crescida quer voltar para lhe contar seus sofrimentos, desilusões, a morte de suas esperanças... para encontrar novamente o aconchego onde poderá descansar sua cabeça cansada e abatida e onde poderá, enfim, chorar as suas lágrimas que não encontram onde chorar. Volto derrotada porque não fui capaz de viver, trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim. Perdoem-me..., ..., ..., "
Quantas vezes não nos deparamos com histórias como essa acima (verídica, onde ocorreu a troca de alguns dados pessoais), e quantas vezes não nos perguntamos o por que? Tantas pessoas em filas de hospitais esperando um transplante de algum órgão, lutando pela vida, buscando uma esperança... E uma pessoa “saudável” tira a sua própria vida?O ser humano pode ser considerado uma caixa de surpresa, o ser humano é o único animal que mata um ser de sua própria espécie só por matar, e o único também que atenta contra a sua própria vida! É triste quando lemos ou ouvimos notícia de algum suicídio e é deprimente ao depararmos como é comum esse ato, e com o fato de que quanto mais o mundo cresce em todo o seu aspecto, mais pessoas não querem viver nele.
Suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; - caedes = ação de matar), foi utilizado pela primeira vez, pelo menos o que costa na história, por Desfontaines em 1737, onde se é um ato intencional contra a própria vida a fim de escapar de um sofrimento intenso onde a pessoa sente que não irá suportar.
Números: Nos Estados Unidos ocorrem 30.000 (quase 100 por dia) mortes decorrentes de suicídio, sendo que as tentativas que não terminaram em morte cresce de 8 a 10 vezes esse número, estando na 8ª posição entre as causas de morte, depois de problemas de coração, câncer, derrames, acidentes, pneumonia, diabetes e cirrose. Também se estima que as mulheres tentam suicídio 4 vezes mais que os homens, sendo que os homens cometem 3 vezes mais que as mulheres, isso deve-se ao fato de que eles fazem mais tentativas com métodos mais agressivos e as mulheres com métodos menos agressivos e conseqüentemente menos eficazes, sendo que a pessoa que tenta uma vez tem 30% de chances de cometê-lo.
A faixa etária também é de grande importância, a maioria dos suicídios ocorrem na faixa etária dos 15 aos 44 anos. Doenças físicas como o câncer, AIDS, esquizofrenia, depressão são os mais altos motivos de uma pessoa tentar o suicídio. No mundo se suicida aproximadamente 2.000 pessoa. O índice brasileiro é de 4,9 suicídios para cada grupo de 100.000 hab., o Rio Grande do Sul possui os mais altos índices-11 para cada grupo de 100.000 hab.
O suicídio é conseqüência de uma perturbação psíquica. A tensão nervosa culmina os conflitos intrapsíquicos de gravidade acentuada onde a morte torna-se o único refúgio. Inconscientemente o suicida tenta depositar a culpa de sua morte nos indivíduos ao seu redor, principalmente nos seus familiares, funcionando como um “castigo”, um ataque contra o ambiente em que ele sofreu.
Para Freud o suicídio é considerado um assassinato disfarçado, onde a pulsão de morte é mais forte que a de vida, onde o indivíduo ama e odeia o objeto, e internaliza agressão ao objeto ao invés do “eu”. O suicida tem certa identificação com o objeto perdido, que conseqüentemente ele auto-puni com o objetivo de vingar-se.
A ciência explica que no suicida a um baixo nível de serotonina no sistema nervoso, onde a pessoa se torna depressiva e conseqüentemente tenta suicídio.
Entre os jovens com faixa etária de 15 e 24 anos, o suicídio já é a 3ª causa de morte, atrás de acidentes e homicídios. Os motivos mais comuns que desencadeiam o suicídio são a criação, educação e conduta familiar. O sentimento de culpa imposto pelas chantagens emocionais, castigos exagerados, abandono, superproteção são as causas principais para o suicídio entre jovens. A soma desses fatores desencadeia uma desorganização de personalidade em desenvolvimento, desequilibrando continuamente o sistema nervoso e desencontra o indivíduo de seu ego, tendo conseqüência o bloqueio intelectual, a desmotivação, a necessidade de uma fuga psíquica e entorpecimento mental.
Por mais que nós tentemos entender os motivos de uma pessoa chegar a cometer esse ato, nunca chegaremos a plena realidade ou mesmo entender o sofrimento dessa pessoa, pois o que pode ser uma bobagem para nós (não suicida) para o outro é uma catástrofe, por isso esse tema é ainda uma grande questão filosófica de nosso tempo, decidir ou não viver a vida.
Dica de filme: 2h 37 – é um filme, baseado numa história verídica, que trata de suicídio entre os jovens e diversos motivos que se pode ter para tentá-lo. O filme é emocionante, nos ensina que nem tudo o que parece é a verdade, a diversas faces dos choros e risos e que no final é quem menos você espera que acaba por tirar a vida.
Maria Oliveira